quinta-feira, 30 de abril de 2015

ENDOMETRIOSE E SEUS IMPACTOS NA VIDA DA PACIENTE: UM RELATO DE CASO.

Por motivos de "internato"o blog andou um tempo parado. 

ENDOMETRIOSE E SEUS IMPACTOS NA VIDA DA PACIENTE: UM RELATO DE CASO.
ENDOMETRIOSIS AND ITS IMPACTS ON PATIENT’S LIFESTYLE: A CASE REPORT 

Breno William Mariz Guedes
1) Acadêmico do quinto ano do curso de Medicina. Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba. 


INTRODUÇÃO

A endometriose é uma doença crônica, subdiagnosticada, pouco pesquisada e pouco reportada na literatura1,3,4,7,8,10, sendo frequentemente chamada de “a doença esquecida”2,3,8. Define-se como a presença ectópica de tecido endometrial funcional e é encontrada em mulheres de todos os grupos sociais e étnicos.3,10 A prevalência encontrada na literatura é de 10% na população geral, mas chega a 90% nas mulheres que cursam com dor pélvica e infertilidade.1,3 Em sua grande maioria são de causa idiopática. O tempo médio entre as primeiras dores abdominais e o diagnóstico é de aproximadamente 8 anos no Reino Unido e 12 anos nos Estados Unidos.3
Não há cura para a endometriose e pode ocorrer recidiva após tratamento.4 A qualidade de vida de muitas pacientes é afetada devido a subfertilidade, depressão e recorrência da doença, bem como incerteza acerca de futuras cirurgias ou terapias medicamentosas crônicas.3,8,9 Nnoaham et al. também relata uma queda na produtividade profissional.5 Pacientes entrevistadas referiram que a endometriose pode tornar-se um pesadelo: falta de informações, mitos, tabus, subdiagnóstico e tratamentos ineficazes, aliados a uma dor crônica.3 O impacto na vida das pacientes com endometriose, portanto, envolve diversos aspectos: fertilidade, sexualidade, habilidades profissionais e relações interpessoais.3,8

RELATO DE CASO

FLF, 22 anos, vendedora, natural de de Buenos Aires, Argentina, sem filhos, deu entrada no serviço de Emergência do Instituto Cândida Vargas (ICV), em João Pessoa, no dia 25/04/15 referindo dor em baixo ventre e sangramento vaginal de grande intensidade com duração de quatro horas.
A paciente referiu já possuir o diagnóstico de endometriose: já havia passado por uma laparoscopia e uma videolaparoscopia, tendo seu diagnóstico confirmado. Demonstrava-se bastante chateada com a situação, pois nenhum médico conseguia resolver seu problema.Ao exame físico, estado geral regular, afebril, eupneica, FC: 98 bpm, corada. Dor intensa à palpação abdominal.
Foi encaminhada ao serviço de ginecologia do ICV para acompanhamento e tratamento ambulatorial. O caso não pode ser acompanhado até seu desfecho por uma questão institucional: o autor encontrava-se no rodízio de obstetrícia. Entretanto, por se tratar de uma afecção ginecológica interessante, pouco frequente e de grande importância médica e social para as pacientes, este caso servirá de base para uma breve revisão da literatura acerca da endometriose e suas implicações médicas e sociais.
DISCUSSÃO
Endometriose diz respeito a uma doença crónica definida pelo como o crescimento de tecido endometrial funcional em locais fora da cavidade uterina.1,3,4,7,8,10 Segundo Moradi em seu estudo, a doença acomete mulheres com faixa etária entre 17 e 53 anos. As mulheres entrevistadas afirmaram que seus primeiros sintomas relacionados a endometriose apareceram por volta dos 17 anos. O diagnóstico foi feito em média aos 25 (média de 8 anos de demora). Quase metade das participantes referiram que a endometriose interfere “bastante” em suas vidas.
Nos estudos encontrados na literatura, os sintomas mais comumente apresentados foram: dor, dispareunia, dismenorreia, menorragia e infertilidade.3,7,8,10 Todas as pacientes do estudo de Moradi afirmaram ter sofrido dores progressivas, mesmo fora do período menstrual, no abdome, na região lombar e nas pernas, que afetaram significativamente suas vidas. Outros sintomas relatados foram fadiga, incontinência urinária, diarreia e distúrbios do sono.
Laparoscopia e videolaparoscopia são consideradas como as melhores formas diagnósticas para endometriose. A sensibilidade é de 97%, mas a especificidade chega a 77%, além de ser um exame invasivo. Os principais locais são locais pélvicos, mas o acometimento extra-pélvico não é raro.10 Em ordem decrescente os locais mais acometidos são: ovários, fundo de saco posterior, ligamento largo, lig. uterossacro., colo retossigmoide, bexiga e ureter distal.5 Também existem diversos outros sítios já relatados, entretanto menos comuns, como o apêndice e o umbigo,  os quais geralmente ocorrem após o procedimento laparoscópico, mas que também podem ser primários e cuja fisiopatologia não é clara.10 Ultrassonografia transvaginal e imagem por ressonância magnética também são formas de se estudar a endometriose de uma paciente.6
Quanto ao tratamento, há possibilidades medicamentosas e cirúrgicas.3 A dependência da produção cíclica dos hormônios menstruais é a base do tratamento medicamentoso: anticoncepcionais combinados orais, danazol, agentes progestágenos, análogos do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) e outros.6  O tratamento cirúrgico, pode ser dividido em três modalidades: conservador (quando há potencial reprodutivo), semiconservador (elimina-se função reprodutiva, mas mantém-se função ovariana) e radical (histerectomia radical).6 Além disso, terapias complementares ou alternativas também podem ser implementadas, como mudanças no estilo de vida. Algumas mulheres sentem-se frustradas com o constante uso de analgésicos e também se sentem temerosas em tornar-se tolerantes a esses medicamentos, precisando aumentar sua dose.3,7,9

CONCLUSÕES

Endometriose, apesar de rara, deve ser sempre considerada em mulheres em idade reprodutiva cursando com dor cíclica. Seu diagnóstico é difícil e, muitas vezes, demorado. O médico generalista deve estar ciente de que a endometriose pode ser multifocal, requerendo uma investigação profunda em todos os casos.

REFERÊNCIAS

1.Gao X. et al. Health-related quality of life burden of women with endometriosis: a literature review. Curr Med Res Opin. 2006;22(9):1787–1797. doi: 10.1185/030079906X121084. 

2.Overton C., Park C.. Endometriosis: more on the missed disease. BMJ. 2010;341:c3727. doi: 10.1136/bmj.c3727.

3.Moradi, M. et al. Impact of endometriosis on women’s lives: a qualitative study. BMC Womens Health. 2014; 14: 123.Published online 2014 Oct 4.

4.Denny E., Mann C.H. A clinical overview of endometriosis: a misunderstood disease. Br J Nurs. 2007;16(18):1112–1116. doi: 10.12968/bjon.2007.16.18.27503.

5. Nnoaham K.E., et al. Impact of endometriosis on quality of life and work productivity: a multicenter study across ten countries. Fertil Steril. 2011;96(2):366–373.

6.Kennedy S. et al. ESHRE guideline for the diagnosis and treatment of endometriosis. Hum Reprod. Oct 2005;20(10):2698-704.

7.Denny E. Women’s experience of endometriosis. J Adv Nurs. 2004;46(6):641–648. doi: 10.1111/j.1365-2648.2004.03055.x.

8.Turnbull H., Mukhopadhyay S, Morris E. The effect of endometriosis on quality of life in patients with a diagnosis in their younger reproductive years. [Abstract] Int J Gynecol Obstet. 2009;107:S631. doi: 10.1016/S0020-7292(09)62259-1.

9.Jones G., Jenkinson C., Kennedy S. The impact of endometriosis upon quality of life: a qualitative analysis. J Psychosom Obstet Gynaecol. 2004;25(2):123–133. doi: 10.1080/01674820400002279.

10. Paramythiotis D. ET AL. Concurrent appendiceal and umbilical endometriosis: a case report and review of the literature.

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